
A figura do velhinho de cabelos brancos e roupa vermelha se impõe na decoração.
Logo na entrada da sala, envolto pelas inúmeras lâmpadas coloridas e enfeites característicos da época, o que se observa de pronto é a representação mais comum do senhor que, em um único dia, consegue atender aos anseios e pedidos de todas as crianças do mundo.
Seguindo à risca a história repetida todo mês de dezembro de cada ano, todos os elementos estão presentes na imagem que balança pendurada na parede com a força do vento: o gorro vermelho, a barba robusta e muito branca, o saco de presentes.
“Nós somos diferentes. Nós acreditamos”. A convicção da existência de um dos maiores símbolos do período natalino bem que poderia partir de alguém que ainda não completou uma década de idade.
Contrariando qualquer lógica, porém, a frase surge de quem, além de criar seus filhos, já é responsável por manter viva a magia do Natal, agora, nos netos. Sem negar por nenhum momento a crença no bom velhinho, a dona de casa Regina Barroso já guarda na ‘ponta da língua’ o que dizer para os filhos de seus filhos quando eles já começarem a duvidar do Papai Noel. “O Papai Noel existe, sim. São as pessoas boas. É a pessoa boa que tem dentro de você. A imagem do bom velhinho é você quem faz”, adianta. “O Natal é uma magia. A gente tem que alimentar uma esperança na criança”.
As experiências vivenciadas por Regina ainda na infância são repassadas categoricamente para cada um dos netos. Com a proximidade do final do ano, os enfeites já começam a ser resgatados e a missão de organizá-los pelos quatro cantos da casa é das crianças. Cumprida a missão de arrumar a árvore de Natal, recheada de bolas coloridas e miniaturas de símbolos da época, Kael da Silva Fortes, 6 anos, já aguarda ansioso pelos presentes pedidos em carta para o bom velhinho. “Pedi um Xbox e o Buzz Lightyear”, enumera. Ao lado do videogame, o boneco do desenho animado ‘Toy Story’ é seu preferido. “Eu acho que agora ele [Papai Noel] tá fazendo o Buzz pra me dar”.
Com a noção da grande quantidade de crianças que o Papai Noel precisará atender nesse Natal, Kael não titubeia e explica, à sua maneira, como o velhinho consegue cumprir todos os seus compromissos.
Sem limites à imaginação, ele não tem dúvida de que o responsável pelos presentes recebe ajuda. “Ele tem muitos duendes e começa a fazer [os presentes] muito antes”, diz, sem esquecer de descrever como ele imagina que seja o Papai Noel. “Ele usa roupa vermelha e se lembra de todas as crianças”.
MAGIA
Com a percepção de que o filho mais velho já começa a questionar a existência do personagem, a turismóloga Karolina Barroso admite que os responsáveis por manter a fantasia do Papai Noel nos filhos são mesmo a avó e o pai dos meninos. “O pai e a avó sempre quiseram passar essa magia. Eles brincam com o imaginário deles: montam a árvore, dizem que o Papai Noel vem, sim”, afirma. “A criança vai crescendo e já vai questionando. Acho importante a criança ir descobrindo aos poucos, a partir do momento em que for criando senso crítico. Para mim, mais importante que a leitura do Papai Noel é a criança entender a magia da solidariedade”.
Sem deixar de entender os sentimentos que envolvem essa época do ano, Kael, que por vezes já chegou a se perguntar sobre a existência do bom velhinho, ainda hoje de decide pela crença.
Escolhido para representar o Papai Noel em uma peça do colégio no Natal do ano passado, ele não esconde a alegria em vestir mais uma vez a roupa característica. “Obaaaaa, vou lá pegar!”.
Com a roupa já pequena para seu tamanho, ele não pensa duas vezes antes de emprestar parte do figurino para o irmão João Rafael da Silva Fortes, de 3 anos. “Uma vez o Kael já disse que ia ficar acordado pra ver o Papai Noel, mas a gente explica pra eles: ‘o Papai Noel vai soltar um pozinho em cima de você e você vai dormir pra ver os presentes que ele deixou quando acordar”.
Assim como Kael, o pequeno Bruno Henrique Pinheiro Basto, 8 anos, também já chegou a se questionar sobre a existência do senhor para quem ele destinou sua cartinha de Natal esse ano. A dúvida veio ao mesmo tempo em que a dos coleguinhas. Bruno, porém, fez questão de saná-la com a pessoa mais indicada para isso. “Eu pensava que era mentira, mas eu encontrei com ele no shopping e ele me contou que ele existia. Voltei a acreditar”, sorri.
Com a foto já distante ainda guardada na estante da casa, Bruno lembra que as visitas ao bom velhinho já datam de muito tempo.
No Natal do ano passado, o menino lembra que não conseguiu encontrar o velhinho, mas não esquece dos presentes encontrados assim que acordou. “Ele não dá presente para quem não se comporta. Ano passado quase que eu não ganho [presente] porque eu me comportei meio mal”, revela ao fazer questão de lembrar que nesse ano os presentes estão garantidos. “Hoje eu recebi minhas notas, só tirei nota boa. Esse ano eu me comportei bem”.
A lembrança dos presentes já dentro de casa também despertam em Bruno a curiosidade de saber por onde o Papai Noel se espreme para entrar. Sem muitos rodeios, ele faz algumas deduções. “Ele deve ter algum tipo de chave. Aqui pela frente não tem como ele entrar... ele deve entrar pelo lado e ir lá pelo quintal”.
“Não!”, interfere Ana Héllyda Pinheiro Bastos, irmã de Bruno. “Ele faz uma mágica e aparece aqui”. Com apenas quatro anos de idade, Ana Héllyda demonstra em cada palavra a convicção da existência do Papai Noel.
De pronto e sem a necessidade de enrolação, ela descreve como acredita que o velhinho se vista. “Ele tem uma barba, usa um chapéu, um cinto, uma bota e também tem um saco”.
Certa de que, assim como o irmão, se comportou ao ponto de merecer o presente pedido ao Papai Noel, a menina é só alegria ao falar do Natal. “Vou ganhar a fada florida. Ele faz os presentes quando amanhece, quando o sol sai e só de noite vai pro shopping”, garante. “Ele é bonito, não é velhinho”.
EM CASA
Responsável por receber Bruno e Ana Héllyda em uma das visitas ao shopping, o Papai Noel Milton Boger é também o encarregado de manter o espírito do Natal vivo também em suas nove crianças, mesmo que nem todas sejam tão crianças assim.
Com a filha mais velha já com 41 anos e a mais nova com apenas alguns dias de vida, ele sempre fez questão que todos entendessem a importância da figura incorporada por ele todo mês de dezembro, há mais de 10 anos.
“Eu quero que acreditem que o amor existe. Papai Noel é a magia do Natal que ninguém sabe explicar até hoje. Quero que eles tenham o amor que eu sempre tive”, reflete.
“Quando eles chegam até mim querem puxar a minha barba pra ver se é de verdade. É muita gente. Mas antes a quantidade de criança era muito maior”, pondera.
(Diário do Pará)
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