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Macarrão estava calmo na sessão de ontem e falou muito com seus defensores
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Por trás do jeito simplório, de homem criado na periferia, e da fama de faz-tudo de jogador de futebol, uma estratégia de mestre. Luiz Henrique Romão, o Macarrão, surpreendeu juristas, jornalistas que acompanharam todo o caso e até mesmo policiais com uma "confissão" que pode agilizar seu veredito, atenuar sua pena e o tornar imune a novas acusações sobre os crimes de sequestro, cárcere privado, desaparecimento, morte e ocultação de cadáver de Eliza Samudio. Para coroar o desfecho, ele pode sair da cadeia em breve e até mesmo com proteção da Justiça. Segundo especialistas, todo o depoimento prestado por Macarrão na madrugada de quinta-feira pode ter sido calculado para tentar favorecê-lo, até mesmo as contradições. "O depoimento não foi verdadeiro. Eu ouvi o menor várias vezes e confio na versão dele (Jorge Rosa)", afirmou a delegada Alessandra Wilke, que investigou o crime em 2010. Macarrão afirmou que Eliza insistiu para vir a Minas buscar dinheiro, pois não acreditava que Bruno faria a transferência bancária prometida. A declaração de que ela veio espontaneamente seria uma tentativa de se distanciar da acusação de sequestro, já que ele dirigia o carro que a trouxe do Rio de Janeiro. Além disso, se desvencilhando da acusação de cárcere privado, ele afirmou que Eliza tinha liberdade no sítio do jogador e que foi até a um jogo de futebol. Para negar o homicídio e a ocultação de cadáver, ele alegou que apenas deixou Eliza na Pampulha e que sofreu porque "pressentiu" que ela fosse morrer. "Ele deve ter sido orientado a contar meias-verdades", disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, Willian Santos. Edson Moreira, então delegado, também desconfia de Macarrão e acredita que sua confissão não passe de uma manobra para reduzir sua pena. "Além de se tirar da cena do crime, ele apagou a história do cárcere privado e a do sequestro contada pelo menor", afirmou. Especialistas avaliam que, com os atenuantes, ele cumpriria cerca de cinco anos - já está preso há mais de dois. Obrigação. Com um depoimento verdadeiro ou não, o certo é que, após o veredito de hoje Macarrão não poderá mais ser julgado por nenhum dos crimes, a não ser que a Justiça entenda que neste júri haja provas para condená-lo que foram ignoradas, não por influência do que acontecer em outro julgamento. "Ele não pode ser julgado nem mesmo por mentir, se esse for o caso, porque nenhum réu é obrigado a produzir prova contra si mesmo", explicou Leonardo Marinho, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Diante da confissão e da possibilidade de ele ser, como Macarrão disse, um "arquivo vivo", o assistente de acusação José Arteiro disse que pode ser feito um pedido para incluí-lo no Programa de Proteção à Testemunha. Confissão desqualifica versão de que Eliza esteja viva e complica jogador Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que a confissão de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, na madrugada de ontem joga por terra a versão da defesa do goleiro Bruno de que não houve crime e de que Eliza Samudio estaria viva. Por consequência, ela pode forçar os advogados do goleiro a uma mudança de estratégia. "O depoimento do Macarrão será levado ao júri. E, agora, a tese de defesa de que não houve crime não é mais válida. Eles precisam pensar em outra estratégia, porque a negativa ficou fraca", afirmou o doutor em processo penal Leonardo Augusto Marinho. O advogado disse ainda que é impossível prever o grau de prejuízo a Bruno ou se haverá uma condenação. Pensando em minimizar os danos à defesa, o advogado Lúcio Adolfo da Silva já pensa em incluir Macarrão como testemunha e até mesmo em promover uma acareação entre ele e Bruno, seu cliente. Essa seria uma tentativa de desqualificar e até desestabilizar Macarrão. "E eu quero uma acareação entre os dois, porque acho que ele (Luiz Henrique) foi pressionado pela acusação a fazer aquele depoimento", disse. (Joana Suarez/NO)
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